A Crise e os Seguros

Novembro 21, 2012

seguros e criseNos tempos que correm a crise está na ordem do dia. Será porventura a palavra mais usada, o pensamento mais recorrente, daí que também os seguros não sejam alheios a esta conjuntura.

Nem que seja pelo simples facto dos seguros existirem para satisfazer as necessidades (algumas até entre as mais básicas) das pessoas, e as pessoas estarem a ser imensamente afetadas pela crise.

Impondo-se as seguradoras, pelo menos as boas, questões de responsabilidade social, preocupam-se com o meio onde exercem a sua atividade, e é nesse sentido por exemplo que a Zurich ainda há pouco divulgou os resultados de um estudo que diz que a crise financeira provoca noites mal dormidas a metade dos portugueses.

Metade dos portugueses dorme mal devido à crise

Trata-se do estudo What Keeps you awake at night. A crise é o principal motivo de preocupação dos portugueses, provocando noites mal dormidas a 50 por cento da população, de acordo com este estudo apelidado em português “O que o mantém acordado à noite”, e levado a cabo pela Seguros Zurich em oito países europeus.

Os portugueses compõem o top 5 das preocupações com os filhos (47%), a gestão da economia familiar (37%), a pressão no trabalho ou na escola (30%) e a situação política (28%).

Talvez dessas prioridades resulte o que se segue em termos de seguros que mais valorizam, a esmagadora maioria dos portugueses indica o seguro de vida (76%), depois o seguro automóvel (56%) e o seguro de casa (56%) e o seguro de invalidez (37%).

Segundo Ana Paulo, Diretora do negócio Vida da Zurich em Portugal os resultados portugueses evidenciam que foram obtidos precisamente em período de crise económica e social, já que nos países onde a situação não é de crise, como a Alemanha, a Áustria e a Suíça, as preocupações dos inquiridos centram-se em aspetos da vida privada, nomeadamente em preocupações com a família, os parceiros e até a vizinhança.

A saúde (85%) foi identificada como o bem que a maioria dos portugueses gostaria de assegurar se possível, bem como a estabilidade financeira (40%) e o emprego (32%). Apenas 9% identifica a felicidade como fator que gostaria de garantir.

Em Portugal a seguradora Zurich realizou quinhentas entrevistas telefónicas a maiores de 15 anos, de norte a sul do país.

A Crise e a Saúde

Se nestes tempos estamos mais sensíveis e a necessidade de proteção é mais apercebida, aliás como constatam os estudos, do género deste que lhe demos a conhecer, a sensação de declínio do Estado Social ainda vem agudizar mais este efeito.

No final dos anos 70, a criação do SNS – Sistema Nacional de Saúde permitiu estender e democratizar o acesso aos cuidados de saúde a toda a população em geral.

Ainda assim, o cenário anterior à criação do SNS já provia um sistema de apoio à doença para cerca de dois terços da população portuguesa.

Os portugueses habituaram-se a contar com cuidados de saúde prestados a custos sustentáveis e agora temem pelas fragilidades de funcionamento percetíveis nos últimos anos, e por do que isso, pelos anúncios de cortes crescentes de financiamento.

Falta de médicos de família, infindáveis listas de espera para consultas e cirurgias, aumentos das taxas moderadoras, fazem parte do rol de notícias que minam a confiança dos contribuintes portugueses na proteção que o Estado lhes pode proporcionar em termos da sua saúde.

As alterações demográficas que resultaram do aumento da esperança média de vida, catalisam estas deficiências e exacerbam os temores de não obter resposta capaz na altura em que esta for necessária.

O emagrecimento do Estado Social, nomeadamente no que diz respeito aos custos com o SNS, conduziu um número crescente de portugueses a assegurarem os cuidados de saúde por outras vias, nomeadamente recorrendo ao setor privado e aos seguros de saúde assim disponibilizados.

Mas poderão os portugueses derivar para essa oferta? Terão condições monetárias para o realizar e para assegurarem o nível de cuidados que antes o SNS lhes parecia garantir?

É triste que tenham que o vir a fazer neste período.

Não poderia ocorrer pior altura para lhes ser tirado o tapete dos cuidados de saúde tendencionalmente gratuitos.

No segmento dos seguros de saúde, o mercado segurador português tem evoluído bastante e disponibiliza boas soluções e bem diversificadas por idade e nível de acesso a serviços.

Os cartões de saúde são o caso mais recente da tentativa de adequação do produto de seguro às reais necessidades dos segurados.

Nota-se que as seguradoras têm ajustado os seus produtos à redução do poder de compra dos cidadãos, através da criação de alternativas de seguros com prémios mais baixos mesmo tentando manter um nível de garantias essenciais para as reais necessidades dos segurados.

No entanto, ainda assim não é nada fácil, por não ser barato, obter esses cuidados, ou ficar no sossego de saber contar com eles quando deles necessitar.

Neste particular, também esperamos poder dar um contributo enquanto site que dedica algum espaço à análise da oferta de seguros de saúde. Esperamos que aqui possa encontrar a solução mais adequada e equilibrada para a sua situação em concreto, e por organizamos em permanência aquilo que chamamos de Escolha Acertada em Seguro de Saúde, onde revemos as várias alternativas que vão sendo lançadas pelas seguradoras, e lhe aconselhamos a melhor.

A Crise e o seguro automóvel

A crise retirou poder de compra aos portugueses e os cortes de custos chegam naturalmente também ao seguro automóvel, que se vê cada vez mais limitado na subscrição das chamadas coberturas complementares.

crise nos seguros

Os portugueses andam a limitar o seu seguro automóvel às coberturas obrigatórias.

Há 5 anos, a disponibilidade para contratar coberturas de danos próprios ou outras, que não as obrigatórias do seguro automóvel era patente e isso hoje já não acontece.

Os seguros automóvel mais populares são efetivamente os de preço mais reduzido.

São esses que as famílias portuguesas procuram, para tentarem poupar algo que possam aplicar melhor (pensam) em despesas mais prementes.

As seguradoras têm estado atentas e procuram corresponder a essas expetativas, reformulando os seus produtos de seguro auto, ou mesmo, criando novos produtos mais simples e com coberturas mais limitadas, mas com os preços competitivos a que o consumidor adere.

Não quer dizer que desistam de tentarem convencer os consumidores de que o preço não é tudo num seguro automóvel e que a qualidade da assistência ao cliente deve ser valorada, mas os dias não ajudam a essa consciencialização, daí que muitas vezes tenham menos retorno que Santo António a pregar aos peixes.

Os portugueses tentam pagar menos pelo seguro automóvel que já têm, e por outro lado, escasseiam os novos contratos de seguro para carros.

A evolução do comércio automóvel está também a condicionar o produto de seguro auto.

Havendo uma clara diminuição na venda de carros novos, precisamente aqueles onde o segurado costuma investir em melhores e mais completas coberturas, nomeadamente as de danos próprios, os números do seguro automóvel sofrem com isso.

Quem compra carro novo, mesmo estando mais alerta para certos riscos e querendo fazer um esforço financeiro para garantir proteção contra eles, sabendo que futuramente terão menor capacidade para suportar os custos que deles possam advir, acabam por não contratar o seguro de danos próprios, ficando-se por um relativo upgrade para planos que garantem algum aumento da proteção mas ainda com prémios acessíveis.

Assumem assim um custo intermédio, que os coloca a salvo de apenas parte do inesperado. O suficiente para conseguirem algum conforto em saber que têm um pacote de seguro automóvel que lhes retira alguma pressão e alguma preocupação.

É de esperar que em resultado da crise económica e da boa competitividade no setor segurador automóvel em Portugal, se assista a uma redução dos prémios médios, colocando maior pressão sobre a rendibilidade das seguradoras.

A espetável crescente redução do rendimento disponível, o preço dos combustíveis, e até a evolução tecnológica, que tem o efeito de levar os consumidores de seguros a julgarem poder prescindir de determinadas coberturas (os veículos têm cada vez uma dinâmica mais segura, generalizaram-se sistemas anti-intrusão, bloqueadores, sistemas de GPS anti furto, etc), levará com certeza a que cresça ainda mais a procura pelas coberturas menos abrangentes e mais económicas.

O panorama ainda fica mais negro para as companhias de seguros se pensarmos que a nossa sociedade conta cada vez mais com idosos e são cada vez menos os jovens.

Os idosos tendem a deixar de ter veículo próprio, e os jovens tendem a adquirirem algum. Sem automóvel não há necessidade de seguro automóvel.

Se bem que por outro lado, a diminuição do Estado Social que também se faz pelo corte aos sistemas de transportes públicos possa equilibrar esta tendência, e algumas pessoas que encontraram no transporte público a forma de se deslocarem para os seus empregos, deixem de a ter e tenham que voltar a recorrer ao carro próprio.

A crise e as cedências em segurança rodoviária

Estudos parecem indicar que existe uma relação entre a vida económica de um país e a sua capacidade para atuar em termos de segurança rodoviária.

Se isto for verdade, atravessando Portugal uma série crise económica, é espetável que as suas autoridades vejam diminuída a sua capacidade de intervenção em termos de prevenção rodoviária.

Os especialistas em viação do Centro Allianz para a Tecnologia estabelecem essa ligação, inferindo que quanto mais baixo for o rendimento per capita de uma sociedade, mais elevado se torna o risco de acidentes de viação.

Christoph Lauterwasser, o responsável pelo Centro Allianz para a Tecnologia entende que esta tendência é preocupante e deve ser travada, porque a segurança rodoviária não se pode tornar numa questão de mais ou menos prosperidade.

De acordo com os especialistas da Allianz, a segurança rodoviária ativa pode ser reforçada através de ações de consciencialização nas escolas e uma legislação mais rígida na atribuição de cartas de condução.

Também o combate ao álcool na estrada deve ser intensificado, uma vez que o álcool chega a ser responsável um terço % dos acidentes fatais (números da OCDE).

Diz também o centro da Allianz que os sistemas de assistência à condução são um válido contributo para a prevenção dos acidentes, o que acontece sobretudo em países com poder de compra.

Já o reforço da segurança rodoviária passiva deve ser concretizado intensificando o uso de cintos de segurança, cadeiras para as crianças e capacetes.

Resta-nos comentar aqui estes aspetos e espera assim ter dado um humilde contributo para atenuar o tal decréscimo de intervenção em prevenção que o estudo refere.

A crise e os seguros de responsabilidade civil

Desta feita socorremo-nos de um estudo da corretora Marsh para avaliar as consequências que a crise tem tido, neste caso nos seguros de responsabilidade civil.

A crise tem deixado muitas empresas temerosas face à possibilidade de terem que litigar em quaisquer questiúnculas jurídicas que sempre saem exponenciadas nestes tempos de instabilidade económica, política e social.

Para amplificarem a proteção face a eventuais litígios envolvendo os seus produtos, serviços e até atitudes, as empresas estão a proceder a um reforço das suas coberturas de responsabilidade civil.

Este estado de coisas é o que o estudo Liability Insurance Buyers Report 2012 infere. Obra da Marsh e incidindo sobre as empresas da Europa, do Médio Oriente e de África.

A acessibilidade dos preços dos seguros de responsabilidade civil, a par do receio crescente que já expressamos acima, de reclamações, tem levado as organizações a aumentarem a sua proteção, contratando além dos anteriores limites do seguro de responsabilidade civil.

Será perfeitamente legítimo extrapolar estas considerações para o contexto português, até porque a instabilidade aqu vivida é ainda mais aguda que na generalidade dos países estudados.

O estudo da Marsh atesta que desde 2008, as empresas da EMEA (Médio Oriente e África) aumentaram em 7 por cento os limites dos seus capitais seguros, que representam a indemnização máxima a receber em caso de sinistro.

Uma outra conclusão que se pode retirar do estudo, embora adjacente para o tema deste artigo – a crise – mas que ainda assim, pela sua importância não queremos deixar de referir, é a constatação de que o setor em que cada empresa opera é fundamental para determinar os limites apropriados para o seu seguro de responsabilidade civil.

O setor é ainda amais determinante neste cálculo que a própria dimensão da empresa.

Já agora, fique com alguns números dos acréscimos de capitais por setor: no setor da energia o limite aumentou 82% em média; as empresas químicas aumentaram os seus limites de capital em 28 por cento e as empresas farmacêuticas incrementaram os capitais dos seus seguros de responsabilidade civil em 15 por cento.

 

Principal dinamizadora da criação da Seguros Mais, detém formação superior em Engenharia que aplica nas áreas da consultoria e formação, não deixando de ser elemento ativo nas publicações e avaliações do site.

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