Análise dos seguros e fundos de pensões em Angola
Damos-lhe conta neste artigo de uma análise ao setor segurador e de fundos de pensões em Angola. O estudo foi realizado pela consultora KPMG e apresentado em Abril último. Trata-se do primeiro estudo sobre esta temática para o país angolano.
A KPMG presta serviços de auditoria, fiscalidade e consultoria, que apoiam as empresas e as organizações na gestão de riscos e no caminho da desejada prosperidade na condução dos seus negócios.
Neste estudo a KPMG pretendeu dar conta do seu ponto de vista quanto à performance do setor segurador em Angola entre 2008 e 2010, bem como relatar uma breve descrição das tendências e principais desafios que se apresentam às seguradoras e entidades gestoras de fundos de pensões do grande país angolano nos próximos anos, fruto das trajetórias de evolução e maturidade dos mesmos.
Com um mercado muito imaturo e em crescente expansão, o setor segurador angolano enfrenta um conjunto de desafios que irão agitar os próximos anos, onde a qualificação profissional e a modernização dos processos assumem um papel preponderante.
O reduzido índice de participação de sinistros do seguro automóvel é um indicador bastante claro da débil cultura de seguros que persiste no mercado angolano e antecipa a provável tendência de valorização da proteção dos bens e pessoas, que se espera gradualmente mais acentuada nos próximos anos.
A tendência é identificada neste estudo, que analisa o setor segurador em Angola, apontando as marcas de uma imaturidade que gradualmente começa a ser contrariada com o suporte do conhecimento internacional e, especialmente, do saber-fazer português.
Adotar alguns seguros como obrigatórios tem sido uma das estratégias mais utilizadas pelo mercado angolano para ampliar o grau de proteção dos cidadãos e intensificar a cultura de seguros local.
Atualmente, em Angola, são obrigatórios os seguros de Responsabilidade Civil Automóvel, seguros de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, de Responsabilidade Civil de Aviação, Transportes Aéreos, Infraestruturas Aeronáuticas e Serviços Auxiliares.
No entanto, a falta de fiscalização tem condicionado o grau de eficácia destas obrigações, procurando agora o mercado reforçar o seu caráter inspetivo, numa busca pela profissionalização e modernização.
De resto, Angola tem assistido a um progressivo reforço do regime jurídico que enquadra este setor, com o supervisor a assumir um papel cada vez mais presente no quotidiano dos operadores.
A par com a legislação, surgem tendências para o aparecimento de novas abordagens tributárias e fiscais ao setor, que certamente agitarão os próximos anos do mercado segurador angolano.
Igualmente importante para a crescente profissionalização e modernização do setor será a aposta na qualificação dos seus recursos humanos, já que o nível de conhecimento técnico, sobretudo em áreas com a Gestão de Risco, Atuariado ou Marketing Estratégico e Operacional, é ainda muito baixo, carecendo de um reforço imediato.
Ainda assim, a KPMG reconhece a evolução favorável registada nesta matéria nos últimos anos, que no entanto está longe de corresponder às aspirações de um mercado moderno e profissional.
Distribuição dos seguros
Quanto à distribuição, a venda direta de seguros mantém-se como canal predominante, estando em curso algumas experiências de comercialização de seguros através da banca.
Prevê-se ainda um amadurecimento do canal profissional de mediação numa altura em que o número de mediadores de seguros a operarem em Angola é ainda muito reduzido.
Geralmente, a oferta está intensivamente concentrada em produtos obrigatórios, denunciando um imenso potencial de coberturas facultativas por explorar, sobretudo no Ramo Vida.
A melhoria progressiva dos níveis de rendimento disponível em Angola, em conjunto com um progressivo aumento do nível de informação dos angolanos, deverá ser acompanhada com uma oferta mais diferenciada, segundo defende a autora do estudo.
De resto, há ainda um longo trabalho a fazer na preparação de informação segmentada sobre clientes e potenciais clientes, que permita uma abordagem mais direcionada para mercados-alvo por parte dos profissionais da mediação.
Todo este trabalho irá ocupar muitas horas de estudo nos próximos tempos, pois faltam indicadores concretos sobre padrões de consumo, preferências, comportamentos e capacidades financeiras dos diferentes perfis de clientes.
E aqui há que ter em conta outro fator relevante.
Microsseguro
Apesar do aumento médio do rendimento, os níveis de assimetria na distribuição desse rendimento ainda são muito elevados em Angola, havendo uma camada muito significativa da população com rendimentos baixos.
Neste contexto, o desenvolvimento do microsseguro poderá ser um importante fator de crescimento para o sector segurador.
Mas o desenvolvimento rentável e sustentável do microsseguro está, no entanto, envolto em inúmeros e exigentes desafios que incluem temas regulamentares e de supervisão, modelos de negócio, canais de distribuição, mecanismos de gestão e partilha de risco, coberturas e condições contratuais adequados, modelos de cobrança e pagamento, entre outros.
A prioridade de redução da pobreza, aliada ao elevado número de pessoas situadas neste segmento de mercado, poderão ser os elementos que motivam a criação e desenvolvimento deste importante segmento de mercado em Angola, havendo que encontrar soluções que permitam tornar os modelos rentáveis, solventes e adequados aos reais desafios e necessidades dos que possam beneficiar com eles.
Simplificação e qualidade de serviço
Fortalecer o modelo operativo de suporte ao desenvolvimento do negócio constitui, de igual forma, uma prioridade para o mercado segurador angolano, que carece de mecanismos que garantam qualidade de serviço neste contexto de rápida expansão.
Antevê a consultora KPMG que o aumento do rácio de despesas, bem como o expectável aumento das taxas de sinistralidade, principalmente por via do aumento do peso relativo do ramo Automóvel no total das carteiras das companhias, deverá implicar por parte das seguradoras uma maior preocupação na melhoria dos níveis de eficiência e na redução dos custos operativos.
Assim, a melhoria da eficiência dos processos de negócio e de suporte, bem como a aposta na automatização de alguns processos, poderão assumir uma importância crescente na rentabilidade e solvabilidade do setor dos seguros em Angola.
Em causa estão ainda os muito desejáveis aperfeiçoamentos para as áreas de angariação, subscrição, emissão e gestão de apólices e gestão de sinistros, entre outras.
Pode descarregar o relatório completo aqui.