O negócio dos seguros está a mudar impulsionado por novas técnicas e tecnologia
O modelo de negócio é o mesmo: a proteção dos riscos através do prémio de seguro. Só que as tecnologias estão a mudar o backoffice, com mais produtividade, e a relação com o consumidor com um ajustamento de preço cada vez mais adaptado ao perfil e comportamento de cada consumidor de seguros.
O jornal de negócios falou com Santi Cianci, CEO da Generali Portugal e com Gastão Taveira, CEO da i2S. A I2S é uma empresa de soluções integradas para os diferentes intervenientes da atividade seguradora, que tem sede no Porto e estã presente nos mercados europeus, africanos e da América Latina.
A Seguros Mais dá-lhe conta dos testemunhos mais relevantes que atestam a mudança na atividade ocorrida a reboque da nova tecnologia e novas ferramentas disponíveis.
“O sector dos seguros é muitas vezes visto como tradicional, mas na verdade é um dos mais inovadores. Dada a natureza da nossa atividade, que é a proteção de riscos, temos de antecipar tendências e procurar soluções antes mesmo de elas serem requeridas pelos clientes” diz Santi Cianci, CEO da Generali Portugal.
Técnicas computacionais como o “data mining”, o “machine learning” e a “big data” estão a ser usadas e terão uma aplicação crescente no futuro. Segundo Gastão Taveira, CEO da i2S, “toda a área de “business analytics” foi alterada e potenciada com os conceitos de “big data” e “predictive analytics”.
Data mining é o processo de explorar grandes quantidades de dados à procura de padrões consistentes, como regras de associação ou sequências temporais, para detetar relacionamentos sistemáticos entre variáveis, detetando assim novos subconjuntos de dados.
Big data é um termo amplamente utilizado na atualidade para designar conjuntos de dados muito grandes e complexos, que as aplicações de processamento de dados tradicionais não conseguem lidar e só agora começam a ser ‘tratáveis’
O machine learning é uma subárea das ciências da computação que evoluiu do estudo de reconhecimento de padrões e da inteligência artificial, constituindo-se como o campo de estudo que dá aos computadores a habilidade de aprenderem sem serem explicitamente programados.
O “‘machine learning’ é uma área em fortíssimo desenvolvimento e cujo impacto será sentido de forma crescente. As tecnologias de ‘machine learning’ vão permitir a melhoria da seleção de riscos e de subscrição, tarifação, etc. A previsão do CEO da I2S é que “em conjunto, estas tecnologias irão permitir o desenho de produtos muito melhor adaptados às necessidades de segmentos específicos, incorporando a alteração mais frequente de coberturas e preços e tarifas muito mais ajustadas a riscos cada vez mais segmentados. Estas tecnologias vão potenciar o ‘usage based pricing’ (um preço adaptado ao perfil de cada consumidor e ao seu comportamento)”.
Diferenciação e riscos da tecnologia
Santi Cianci, CEO da Generali Seguros, mostra como o caminho se faz na prática do negócio. Até há alguns anos, os preçários das seguradoras eram muito idênticos para todos os clientes, em que o agravamento do preço dependia de fatores como a idade e sinistros passados. “Com as novas soluções tecnológicas, este paradigma está a mudar drasticamente. A criação de base de dados com informação sobre sinistros permite uma melhor perceção do risco e da sinistralidade, oferecendo a possibilidade de as seguradoras terem uma melhor quantificação dos riscos a que estão expostas. Por outro lado, as ferramentas de telemática e afins dão a possibilidade de definir padrões de comportamento a nível individual, sendo assim também possível uma adequação do prémio ao risco de forma personalizada” refere Santi Cianci.
Consciente da tecnologia como forma de diferenciação tanto dos “backoffices” como das soluções, a casa mãe, Generali, adquiriu a MyDrive Solutions, start-up inglesa fundada em 2010, que está entre as empresas líderes no uso de ferramentas de análise de dados para definir perfis de estilos de condução. “Esta análise permite identificar produtos inovadores e à medida dos clientes e oferecer preços favoráveis aos condutores de menor risco” refere Santi Cianci. Por isso não surpreende que a Generali tenha integrado a lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo de acordo com o MIT Technology Review, sendo a única seguradora a fazer parte deste ranking.
A tecnologia comporta novos riscos como o uso dos dados pessoais e os padrões éticos que exigem, o potencial de exclusão de determinados consumidores em função das suas características e os riscos cibernéticos associados aos elevados volumes de informação detidos pelas empresas de seguros. “A tecnologia tem grandes vantagens, para as pessoas e para as empresas, mas como tudo na vida acarreta riscos. No mundo em rede, em que todos estamos ligados, é necessário adotar medidas de proteção que minimizem as possíveis ameaças” admite Santi Cianci. E neste campo, as seguradoras são tanto clientes como fornecedoras, como refere o gestor de origem italiana, pois “investimos em soluções tecnológicas e sistemas de informação robustos que são “state of the art” em termos de segurança. Por outro disponibilizamos seguros cibernéticos, de forma a minimizar os impactos de eventuais ataques”.
Relação-chave com o consumidor
A digitalização da economia diz-se que vai obrigar a repensar os modelos de negócio das seguradoras, o modelo de relacionamento com os consumidores, e o suporte tecnológico das várias componentes da cadeia de valor do sector. Para Santi Cianci, “a relação com o consumidor é fundamental nos seguros, pelo que as companhias e os seus canais têm de se adaptar às tendências e hábitos de consumo”. Os clientes são muito diferentes e uns preferem as plataformas digitais para as suas compras de apólices e outros não prescindem de apoio presencial. As seguradoras têm de estar onde está o cliente, por isso, a tecnologia e o mediador são aliadas neste processo.
Mas como refere “mais do que a tecnologia, o que faz a diferenciação é o serviço personalizado ao cliente”. “No que diz respeito à gestão de sinistros, a tecnologia está já a desempenhar um papel importante, pois permite acelerar os processos e desmaterializá-los, com ganhos de produtividade assinaláveis. Já as novas ferramentas previsionais e de ‘big data’, a par do cruzamento de dados, tem o condão de lançar alertas para potenciais situações de fraude, a qual é um dos principais problemas do sector dos seguros a nível mundial”.